A minha resolução para 2005
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Ela passava o tempo todo fechada no quarto. Ouvia baixinho música triste. Não dormia. De vez em quando, espreitava pela pequena janela que alguem um dia lhe oferecera. Mas era muito sensivel, e a luz magoava-a. Mantinha as luzes apagadas. Não tropeçava na mobilia, porque não tinha mobilia. Só uma cama. Deitava-se na cama, e chorava. Depois levantava-se. Andava pelo quarto. Procurava algo. Sorria. Deitava-se na cama, e chorava outra vez.
Um dia começou a ter medo do escuro. Abriu a porta do quarto, e esperou sentada na cama, a ouvir baixinho música triste. Alguém entrou. Ela abraçou-o. Passou a recebê-lo no seu quarto, uma vez por semana. A musica dele era tambem triste, mas mais esquisita. “Engraçada”, dizia ela.
Estou aborrecido.
Tenho sono e não queria ter.
Não me apetece dormir.
Tenho um pijama azul.
Toda a gente tem pijamas azuis.
Acho o mundo grande demais.
Há coisas a mais.
Eu tenho medo.
Medo de me perder no meio de letras e sons.
E de não saber voltar para casa, ou não ter mais casa.
Tenho saudades dos teus braços magrinhos.
Não sei o que isto é.
Ela não me abre a porta.
Tenho sede.
A velha ofereceu-me uma sopa.
Dei-lhe uma moedinha.
Dormi descansado.
Acordei feliz.
Estranhei.
Hoje encontrei-me sentado num comboio, do lado da janela, a pensar. Reparei em como é cinematográfico. Depois pensei em como tudo o pode ser, se quisermos. Quis ser realizador. Ou pelo menos escrever um guião. Mas depois achei melhor fazer as duas coisas. Fantasiei sobre cenas de Sol e Árvores, e comboios a chegar. Imaginei a musica. Descobri o mal do cinema português. A musica. Os Delfins. Coisas parecidas.
Hoje comprei um teclado novo.Tem umas teclas especiais em cima, com atalhos.São bastante uteis, em alguns casos.Mas falta alguma coisa.